Kabeça Orí é um dos projetos vencedores das Bolsas de Criação d’O Espaço do Tempo (2023/2024), com o apoio do BPI e da Fundação “la Caixa”.
Em yoruba, Orí significa cabeça. Mais do que uma parte fisiologicamente estruturada, o Orí é um orixá, um deus, uma divindade pessoal e intransferível. É Orí que irá acompanhar o indivíduo antes de seu nascimento até depois de sua morte. Orí foi uma escolha feita por cada um antes de nascer e uma escolha que continuamente se faz, ou não.
No ocidente, ensinam-nos que a cabeça é uma parte do corpo. Uma parte que abriga o cérebro, que tem uma estrutura composta de ossos, músculos e terminações nervosas. Uma parte que abriga o sistema nervoso. A noção de parte, de desmembramento proposta por lógicas coloniais espelham-se no corpo ⎯ cidade. O lapso enquanto instituição, a memória estrategicamente fragmentada, o violento soterramento é o palco desse cistema brancae.
É de terra que Orí é feito. Bater a cabeça na terra, no chão, é (em tradições de matriz africana, ressignificadas na diáspora) o gesto, a ação, de máximo respeito e reverência. O ato primeiro antes da gira, da festa, do movimento, do revide.