Uma lésbica entra num bar. Esta mulher não se chama lésbica, como podem imaginar. Esta mulher – ser ou não mulher também é uma questão que se coloca. Enfim, lá iremos. Ela entra num bar, lésbico. Ela quer beijar quem lá anda, mas não gosta de lá estar, isto é, não gosta de ghettos, isto é, não acredita em rótulos. Uma vez teve um ataque alérgico grave com uns enlatados, porque não acredita em rótulos. Enfim, lá iremos. Mete conversa com uma simpática sapata. Sem tato nenhum, pergunta porque são precisas estas palavras todas? Ela gosta de mulheres e pronto. Enfim, lá iremos.
Partindo da frase “Se não és lésbica, como te chamas?” (originalmente título de um artigo publicado na 1.ª edição da revista lésbica Lilás em 1993), este espectáculo lança-se por uma investigação sobre essas tão mal-afamadas palavras que ao longo do tempo foram ora descrevendo, ora prescrevendo, o que eram certas pessoas, comunidades e práticas. Lésbicas ou não, todas somos algo – muitas coisas, até. Algumas das quais temos orgulho, outras vergonha, outras nem pensamos muito sobre ser ou não ser. O espectáculo contará com uma viagem por vários marcos da literatura lésbica – ficcional e teórica – para traçar uma história. Uma história das pessoas? Das palavras? Das práticas? Há espécies em vias de extinção, no meio disto tudo? Se não sabemos a história do nosso país, como podemos ser da nossa nacionalidade? E se não soubermos a história das nossas lésbicas?