Dois anos separam Versa-vice de uma peça de Tânia Carvalho que estreou em Marselha numa noite de janeiro de 2020. O nome desta peça era Onironauta. Um nome emprestado daqueles viajantes capazes de controlar os seus sonhos, de moldar, para si mesmos, um mundo de imagens e significados. Havia sete dançarinos no palco. Um número que, como muitas vezes acontece nas obras de Tânia Carvalho, define o tom, traduz uma intenção, trai uma pretensão demiúrgica.
Quantos estarão no palco para apresentar Versa-vice? Até à data, Tânia Carvalho não sabe, ou finge não saber. Onze ou doze, diz. Mas, de um para o outro, vai um mundo de distância! E aqueles que, como eu, têm a sorte de conhecê-la, diriam que se trata de um disfarce.
O diabo está no detalhe, alguns concordarão, mas não só: esta nova peça poderia ter sido chamada de “Oneirofrenia”, em nome daquela condição clínica de outro tempo, categorizada por privação sensorial por falta de sono. Um nome muito sugestivo que, associado ao número doze, não teria deixado de evocar aos amadores do Tarô de Marselha a carta do enforcado (XII), carregando um significado inequívoco: isolamento e doença.
Em vez disso, o título desta nova peça, Versa-vice, soa como uma celebração das nossas emoções. Uma declaração de vida, enquanto guerreamos.
Ao contrário, Tânia Carvalho, como sempre.