Este projeto partiu de uma preocupação pelo trajeto migratório das mulheres, procurando criar uma poética de aproximação destes problemas de uma perspetiva simultaneamente histórica e contemporânea.
Há cinquenta anos, as mulheres faziam parte de apenas 2% de todas as migrações a nível mundial. Hoje, as mulheres contabilizam quase metade da população migratória em todo o mundo, percentagem que continua a subir.
As motivações para deixarem a sua terra variam entre uma vontade de fugir do presente e sonharem com o futuro. Censura, leis patriarcais, ou a falta de diversidade ou igualdade nos seus países de origem, bem como situações de violência familiar ou social, são também a força que motiva estas migrações, em diálogo com a procura por melhores condições de vida e recursos que possam ajudar as suas crianças. Uma em cada duas mulheres decide migrar por medo de colocar a sua vida em perigo, ou pelo perigo emocional e físico nas comunidades onde nasceram e cresceram. E, de acordo com relatórios internacionais, seis em cada dez mulheres a caminho dos Estados Unidos da América são vítimas de violação.
Que momento em particular na vida de uma mulher desencadeia o sonho pela mudança? Que deuses, crenças, substâncias, rituais, teorias, ou práticas sustêm o corpo migratório? Que impossibilidades passam a ser possíveis para que o sonho seja possível? Que corpos produzem esta jornada? Como contar o que é incontável, quando aquilo que é insustentável já ocorreu? Todas estas perguntas permancem num oceano de silêncio.