De um lado um muro de pessoas, do outro um muro de pedras, como que 'entre a espada e a parede', um palco. Neste vale encantado, um espetáculo em miniatura moldado para caber em grandes espaços. Tem a forma de uma fábula, resultado da acumulação de vários contos, alguns de amor, outros de guerra, alguns de viagens, outros bestiais. São contos-arma que garantem a sobrevivência do seu narrador, num duelo entre a imaginação e um coração petrificado. São contos-lamento que celebram ausentes, num duelo entre vida e morte, prisão e liberdade, vício e virtude, realidade e desejo.
Nesta arquitetura de pedra-sobre-pedra e de pessoa-sobre-pessoa, um espelho imaginário. Artefacto de multiplicação, projeção, alienação e encantamento que, noite após noite, transformará o palco numa cebola.
De camada em camada, envolta em odores e salpicos invisíveis, a “boca contadeira” oferece-se à espada e à parede, adicionando um conto à infinitude dos contos.