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De um lado um muro de pessoas, do outro um muro de pedras, como que 'entre a espada e a parede', um palco. Neste vale encantado, um espetáculo em miniatura moldado para caber em grandes espaços. Tem a forma de uma fábula, resultado da acumulação de vários contos, alguns de amor, outros de guerra, alguns de viagens, outros bestiais. São contos-arma que garantem a sobrevivência do seu narrador, num duelo entre a imaginação e um coração petrificado. São contos-lamento que celebram ausentes, num duelo entre vida e morte, prisão e liberdade, vício e virtude, realidade e desejo.

Nesta arquitetura de pedra-sobre-pedra e de pessoa-sobre-pessoa, um espelho imaginário. Artefacto de multiplicação, projeção, alienação e encantamento que, noite após noite, transformará o palco numa cebola.

De camada em camada, envolta em odores e salpicos invisíveis, a “boca contadeira” oferece-se à espada e à parede, adicionando um conto à infinitude dos contos.

Marlene Monteiro Freitas é uma dançarina e coreógrafa de Cabo Verde. O seu trabalho gira em torno de temas como abertura, heterogeneidade, hibridez e intensidade. Tem sido reconhecida internacionalmente pelo seu contributo cultural, tendo recebido várias distinções, como a honrosa condecoração do Governo de Cabo Verde (2017), o Prémio SPA em Portugal pela sua peça Jaguar, o Leão de Prata para Dança na Bienal de Veneza (2018), o Prémio de Melhor Performance Internacional na Critica d'Arts Escèniques em Barcelona (2020), o Prémio Evens Arts (2021) e o Chanel Next Prize (2021).

Marlene Monteiro Freitas (CV/PT)

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