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O que acontece se retirarmos a humanidade do ser humano? Se lhe arrancarmos do peito aquilo que lhe mantém o sangue quente e sensível? Se, por lobotomia ou magia, lhe extrairmos a parte mole e cinzenta de dentro do crânio? Essa coisa, de matéria e forma semelhantes a qualquer metade de noz ou nuvem. E se houver um corte abrupto na evolução das espécies e hoje, do nada, o homo deixar de ser sapiens?

Vida Selvagem propõe uma prática que começa a partir do que fica, do que resta, com humanos “como bichos mortais entrelaçados em miríades de configurações inacabadas de lugares, tempos, matérias, significados”. Propõe deixar emergir novas regras de sociabilização, comunicação, toque e fala. Se tivéssemos que voltar a sustentar-nos em características como velocidade, resistência, tamanho, potência, força, rapidez, agilidade, qual seria o lugar da palavra, do argumento, do debate, da mesa redonda, da palestra, da conferência, da leitura? O trabalho de equipa teria que ser resgatado para nos mantermos vivos e, o coletivo, a arma para sobrevivermos.

No mecanismo de luta ou fuga, desencadeado pela ativação do eixo hipotálamo-hipófise-adrenal, o cérebro interpreta a informação como ameaçadora, o hipotálamo induz a hipófise a segregar uma hormona adrenocorticotrópica e, esta por sua vez, faz com que o córtex da glândula adrenal segregue cortisol para a circulação. Em simultâneo com esta cascata hormonal, o hipotálamo envia mensagens através do sistema nervoso simpático a parte do sistema nervoso de luta ou fuga para outra parte do sistema adrenal, a medula. A medula adrenal fabrica e segrega adrenalina, que estimula imediatamente os sistemas cardiovascular e nervoso. Isto é um retrato-resumo do que acontece quando usamos o cérebro primitivo, reptiliano, numa situação ameaçadora. Se não tivéssemos o cérebro racional, córtex, teríamos apenas reações sem reflexão, sem ponderação, sem possibilidade de espera entre recepção e resposta.

O trabalho com os intérpretes será no sentido de ir de encontro a um estar desprovido de córtex cerebral, na direção de uma vida que usaapenas o cérebro reptiliano para agir. Os ensaios serão uma espécie de progressão não linear de desumanização.

Ficha Artística / Técnica

Direção
Márcia Lança

Criação e Performance
Carolina Campos, Daniel Pizamiglio, Inés Sybille, Jannine Rivel, Andrei Bessa

Dramaturgia
Rafael Frazão

Acompanhamento Psicanálise
Tânia Pinto

Luz & Espaço
Letícia Scrkyky

Som
Jørgen Knudsen

Maestrina
Manon Marques

Coro
Rui Borras, Carlos Pedro Santos, João Rodrigues, Marta Queiroz, Sandra Lourenço, Sara Afonso

Produção Executiva
Margot Silva

Co-produção
Festival CITEMOR

Produção
VAGAR

Co-produção em Residências
Casa da Dança (Almada), O Espaço do Tempo (Montemor-o-Novo), Estúdios Victor Córdon (Lisboa), Espai Nyamnyam (Mières - Catalunha), Forum Dança (Lisboa), ZDB 8 (Lisboa), PISCINA (Lisboa), Circolando (Porto)

Digressão
Festival Pedra Dura - Lagos, Teatro A Bruxa - Évora, Lokomotivet, Eskilstuna - Suécia

© Márcia Lança

Márcia Lança fundou em 2008 a VAGAR da qual é diretora artística. É coreógrafa e performer. O seu interesse pela materialidade poética de ações e tarefas concretas está no centro dos seus processos de criação. Criou CAVALA, É Só um Dia, Outro lado é um dia, Dentro do Coração, NOME, Por esse Mundo Fora, Evidências Suficientes para a Não Coerência do Mundo, Happiness and Misery, 9 Possible Portraits, O Desejo Ignorante, Trompe le Monde, Morning Sun, Dos joelhos para baixo.

Márcia Lança - Vagar Associação Cultural (PT)

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