Tugambique é um conjunto de ações com foco nas manifestações pagãs de Portugal e Moçambique nos campos da cerâmica e da máscara. As semelhanças do paganismo nos dois territórios, nomeadamente as suas características de subversão e liberação, fomentaram a perseguição destas formas de expressão em ambos os países no decorrer da História. É possível encontrar nestes territórios figuras pagãs, híbridas e grotescas que suscitam enorme atração, “entidades” oriundas das ancestralidades da nossa civilização que chegam em dias de catarse geral e que surgem literalmente para nos libertar do “bem” vigente.
Tugambique teve início em 2023 no campo da cerâmica com a criação do projeto “A Quatro Mãos”; em 2024, estreiam o concerto “Mocambo” e uma performance-instalação “Possessão” no campo da máscara; em 2025, dá-se o culminar do projeto no âmbito dos 50 anos de independência Moçambicana. Em 2023, “A Quatro Mãos” juntou no mesmo atelier o mais relevante nome do figurado de Barcelos, Júlia Côta, com a referência da cerâmica moçambicana ⎯ recentemente condecorada pelo Presidente da República português ⎯ Reinata Sadimba, permitindo às duas artistas octogenárias mergulharem no vasto imaginário uma da outra, concebendo gradualmente peças a quatro mãos onde se cruza o mundo do grotesco, do pagão e do tribal tão latente na obra de ambas. O resultado será apresentado em exposição no Instituto Camões em Maputo em dezembro de 2024. Nesse mesmo mês, Jonas&Lander iniciam o processo de investigação e criação do concerto “Mocambo”, com músicos moçambicanos, e o processo de criação da instalação-performance “Possessão”, projetada para espaços museológicos nos dois territórios onde, pela primeira vez, coabitam no mesmo espaço máscaras pagãs de Moçambique e Portugal. Um espaço cénico ficcional onde estas “entidades” cruzam rituais associados a cada máscara e exploram a alteração causada na fisicalidade e comportamento de quem as veste. Pela congregação e cruzamento entre a cultura pagã portuguesa e moçambicana, TUGAMBIQUE propicia um aproximar por parte de comunidades que podem sentir-se geralmente com pouca representatividade no universo das artes performativas.