Kabeça Orí é um dos projetos vencedores das Bolsas de Criação d’O Espaço do Tempo (2023/2024), com o apoio do BPI e da Fundação “la Caixa”.
Começamos por pedir licença, “batemos cabeça” para quem veio antes, re-fizemos um caminho a fim de ritualizar o que a cidade tenta sistematicamente apagar. A vídeo performance Kabeça é um prólogo, um percurso realizado pela cidade de Lisboa, onde reverenciamos, damos adobá, em locais que marcam a história da presença negra neste território. Lugares que em sua maioria não tem nenhuma menção sobre esse passado colonial, escravista mas também de muita resistência e luta. Nesse percurso ritual evocamos essa memória soterrada, refletimos sobre a cabeça e suas muitas formas de entendimento, damos os primeiros passos em direção à Kabeça Orí.
Kabeça Orí é a consequência dessa trajetória. Agora se utilizando da linguagem teatral continuamos essa reflexão sobre a cabeça. Em Yoruba, a cabeça é traduzida como Orí, mais do que uma parte fisiologicamente estruturada, Orí é entendido como um orixá, um deus, uma divindade pessoal e intransferível. Em contraposição ensinam-nos que a cabeça é uma parte do corpo. Uma parte que abriga o cérebro e o sistema nervoso. A noção de parte, de desmembramento proposta por lógicas coloniais espelham-se no corpo, na cidade, nos sentidos, na memória em constante fragmentação.
Em diáspora, no palco, duas mulheres negras somam seus passos, constroem um caminho.
Entre fragmentos e conexões, como perturbar o esquecimento? Como não perder a cabeça? Como mantê-la erguida?