PT | EN

O Cão Solteiro associa-se ao realizador André Godinho desde 2007 para criar espectáculos que problematizam a relação entre teatro e cinema como linguagens distintas que se influenciam, historicamente, num fluxo bidirecional. Neste percurso, abordaram-se grandes géneros cinematográficos como o suspense (We All Go A Little Mad Sometimes, 2010, baseado na obra de Hitchcock); o drama (Day For Night, 2014, com as conflictualidades da rodagem real de um filme); ou o musical (Could Be Worse: The Musical, 2019). Convocaram-se mecanismos como a presença de uma equipa de cinema em cena, contrapondo a composição visual aberta do palco à visão selectiva da câmara de filmar (Day For Night); os efeitos especiais, desmontando a possibilidade da ilusão (We’re Gonna Be Alright, 2017); a dobragem das vozes dos actores (Play The Film, 2011); a citação de imagens cenográficas e de figurinos, o final (não) feliz. Criou-se um território hiper-ficcionado, na medida em que contrapõe a linguagem do cinema e o modo como se correlaciona com a realidade fazendo uso da suspensão da descrença, e a do teatro, na qual se aceita uma construção narrativa falsa. Neste território, tudo se joga entre as definições de verdadeiro e falso. Listaram-se e dissecaram-se clichés da imagem cenográfica e a sua significação (o travelling infinito de uma câmara que segue uma pessoa na rua em Heading Against The Wall, de 2020; um corredor de hotel em Day For Night; uma cena nocturna com chuva; a travagem brusca de um carro e o som de um corpo que cai; um dueto musical amoroso). Abriram-se espaços instáveis para testar, até ao limite, os modos de comunicação.

“Tudo no cinema começa com esse momento, há 100 anos, em que o comboio entra na estação.
As pessoas apropriaram-se dos filmes, no momento em que gritaram e tentaram fugir, convencidas de que o comboio vinha de facto na sua direcção. Era na ida semanal ao cinema que se aprendia a andar, fumar, beijar, sofrer. Os filmes ensinavam como ser atraente. Por exemplo: fica sempre bem usar uma gabardine, mesmo quando não está a chover.”

Ficha Artística / Técnica

Criação
Cão Solteiro & André Godinho

Cenografia
Vasco Araújo Figurinos, Mariana Sá Nogueira

Produção
Cão Solteiro / Joana Dilão, Mariana Sá Marques

Comunicação e divulgação
this is ground control

Edição de Cadernos de Texto e Imagens
Maria Sequeira Mendes, Nuno Fonseca, Pedro Faro, Mariana Sá Nogueira

Residência de co-produção
O Espaço do Tempo

Companhia financiada pelo Ministério da Cultura | DGArtes e CML

CÃO SOLTEIRO é uma plataforma de artistas com diferentes práticas que desenvolve projectos de teatro, em Lisboa, desde 1997. Estabeleceu-se ao longo deste tempo um processo de trabalho fortemente suportado pela construção de imagens, ao qual é inerente o cruzamento de linguagens, e a transferência de códigos entre disciplinas artísticas. Por este meio, continua a questionar-se a pertinência formal do teatro, a testar a resistência das suas regras estruturais, focando o processo de construção, e os meios pelos quais a comunicação, neste contexto, se estabelece, usando como ferramentas a deslocação de elementos formais e de sentido, a sua má colocação propositada, entradas absurdas, o erro e a pura mentira.

ANDRÉ GODINHO (1979, Lisboa). Estudou imagem na Escola Superior de Teatro de Cinema e documentário com Les Ateliers Varan. Teve o seu primeiro trabalho numa rodagem em 1998 a fazer Coordenação de Figuração, foi Assistente de Câmara durante 5 anos e faz Anotação desde 2015. Realizou documentários, curtas e séries documentais para a TV. O seu último filme, Uma Rapariga Imaterial, ganhou os prémios do júri e do público para melhor curta-metragem no QueerLisboa 26. Trabalha também regularmente com as companhias de teatro Cão Solteiro, Teatro Praga e Estrutura, como co-criador, co-encenador e ator.

Cão Solteiro & André Godinho

Newsletter