“A beleza será convulsiva ou então não será […] será erótico-velada, explodente-fixa, mágico-circunstancial, ou não será beleza.” — André Breton, O Amor Louco (1937)
Como pretexto para a celebração dos 100 anos do Surrealismo, resolvemos encenar uma peça de teatro a que demos o nome de Explodente-fixa, a partir de textos do escritor russo Daniil Kharms (1905-1942). A escolha de Kharms prende-se naturalmente com a sua persistência em criar um sistema poético contra o sentido, acto libertador na sua essência. No seu teatro, Kharms rejeita a trama dramática usual; é do choque dos diversos elementos teatrais que deverá surgir um novo sentido, transcendendo aquilo que a simples razão carreia. As peças aparentam assim uma grande desordem, misturando-se nelas os géneros e as réplicas, para um teatro não emotivo e antinarrativo marcado pela justaposição de efeitos cénicos que erradica qualquer tipo de significado e didatismo. Seguindo a tradição ortodoxa surrealista esta criação será colectiva, um cadáver-esquisito escandalosamente belo a sonhar nas ruínas da história.